Não sei se vocês se lembram, mas existiu uma época muito, muito tempo atrás, num lugar muito, muito distante em que todo mundo ouvia pagode. Sim, todo mundo. Eu ouvia pagode, você ouvia pagode, seu pai ouvia pagode, sua tia ouvia pagode. Isso porque, é claro, em todo lugar tocava pagode. A rádio tocava pagode, na televisão passava pagode, nas festas se ouvia pagode, nas lojas de cd tocavam os cds de pagode. Não, não samba raiz de universitário intelectual, não samba com hip-hop do Marcelo D2, não sambinha MPB nessa coisa Maria Rita/Los Hermanos ou samba rock do Farofa Carioca. Nada disso, meu amigo, era pagode mesmo.
Nomes como Exaltasamba, Soweto, Os Morenos, Só Pra Contrariar e Karametade causavam nas garotinhas incautas o que hoje causam NxZero, Fresno e derivados, só que com mais gente no palco, mais ginga, mais malícia e mais suingue (e claro, menos franja). E nesse panteão onde Alexandre Pires dominava as paradas de sucesso com suas reflexões filosóficas (“o que que eu vou fazer com essa tal liberdade?”, “a verdade é que eu minto”, “ele vai dar uma pistolada na barata dela”), e Belo tocava as almas e os corações com sua poesia cuja criatividade beirava o construtivismo(“derê, derere, dumdum, dê rererere”), surgiu um grupo que representava tudo que de mais descompromissado, mais fanfarrão, mais bizarro, mais sem noção significava o pagode da década de 90: o Grupo Molejo.
Formado em 1993 por Anderson Leonardo, Andrezão e mais um monte de caras que ficavam rodando na parte de trás do palco da Xuxa fingindo que tocavam alguma coisa,o Molejo era conhecido por suas letras irreverentes, brincalhonas, bem-humoradas e na maior parte das vezes totalmente sem sentido, que tanto acrescentaram ao pagode-pop nacional e tanto sucesso fizeram nas rádios. E é em homenagem a esse grupo que tantas alegrias (ou não) deu a todos nós durante tantas viagens de ônibus nos tempos do colégio e que agora retorna ao estrelato com seu novo CD “Todo mundo gosta” que eu me propus a fazer essa pequena lista (afinal, cinco músicas diante de uma obra extensa como a do Molejo é como escolher apenas cinco filmes diante da filmografia completa de Uwe Boll)
Cilada: Sucesso em todas as excursões escolares junto com “Barata da Vizinha” e “Fogo e Paixão”, essa canção foi uma das incursões do grupo na arte de representar as dramáticas histórias de amor e sofrimento das classes menos favorecidas, com o conto de um rapaz que, interessado por uma moça, deixa que ela o obrigue a prestar serviços domésticos na expectativa de recompensas de cunho afetivo. Tente não se emocionar com o genial refrão que diz “não era amor ô ô/não era/não era amor era/cilada cilada”.
Brincadeira de criança: Uma canção feita não apenas para tocar nas rádios mas também para cumprir uma função social: acelerar o processo de sexualização das crianças do Brasil. Mais uma vez o Grupo Molejo dá aquele passo adiante em termos de composição e nos brinda com uma das frases mais memoráveis da música brasileira: “Até que enfim, chora pra beijar, hein!?”.
Samba Diferente: Também conhecida como a “melô do Frei Damião” (“pode quebrar o pescocinho pro lado, vai, vai, vai, vai”), essa bela canção consiste basicamente em uma série de comandos sem sentido que quando combinados formam uma coreografia que estava no estreito limite entre o inusitado, o curioso e o absolutamente babaca. Méritos do grupo que conseguiu fazer com que várias pessoas pelo país inteiro passassem a vergonha de seguir o que eles diziam sem nem pensar duas vezes.
Paparico: Reafirmando sua verve de bardos do proletariado do século XX, Anderson Leonardo e Andrezão retornam com essa história sobre um rapaz que deseja impressionar uma jovem e para tanto usa de artifícios visando mascarar sua desconfortável situação financeira, o tipo de história que deixaria John Ford boladaço. Destaque para o verso sobre o cheque sem fundo no motel. Massa, véi.
Sweet Banana: Clássico do pagode dadaísta, Sweet Banana é uma dessas músicas que à primeira vista não dizem muita coisa, mas que numa análise mais apurada não significam absolutamente porra nenhuma.
Cara, por alguns instantes eu pensei que não veria Sweet Banana nessa lista… Alívio…
E alguma de suas amigas muito legais (perdão, não me lembro qual) mandou essa (“mandou essa”? enfim…) no twitter: pagodados.tumblr.com . Viu? Sensacional…
Ah, os gloriosos anos 90 uma década que nos trouxe petardos como Molejo, Carla Perez, dança da garrafa e meu favorito Alexandre Pires. (E definitivamente tá na hora de parar com o Uwe Boll).
P.S: Já viu o tumblr sensacional: capas de cd de pagode?
não conheço a Sweet Banana! Oh céus, que lacuna em meu conhecimento cultural!
Cheguei a essa conclusão tempos atrás: a época do pagode foi a melhor de música que obrigam a gente a ouvir. Porque depois veio aqueles axés pornográficos, forró do falamansa, funk do tigrão e agora o tal do sertanejo…
Na época do pagode que eu era feliz. Ainda bem que eu sabia.
hahahaha, caaaaara, que época, hein??
pô, uma ausência que senti na sua lista foi a dança da vassoura!! “Pitipi pitipi pitipau/ Mas tome cuidado com o cabo da vassoura/ É pior do que cenoura / Você pode se dar mal…” hahah, sidivirto…
E era “andrezêêêêênhooo”, e não andrezão!! Shame on me… mas todo mundo gostava, você mesmo disse!!
Gente, desculpem meu desconhecimento, mas quem diabos é Uwe Boll? oO
Eu ri muito desse texto! Só forçou um pouco no “Melô do Frei Damião”… Pecado! aheuaheuaueae
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faz séculos que não comento nada aqui, mas tinha que dizer:
uhauhahauhauhauha
genial.
hahahahahahahahah
tb não conheço sweet banana, mas o restante da compilação está perfeita…
hahahahaha
lembrei desse post de um blog que eu gosto muito, o Don’t Touch my moleskine:
<>
http://donttouchmymoleskine.wordpress.com/2009/08/14/grupomolejo/
Gostaria de dedicar ao Grupo Molejo um dos recordes de comentários espontâneos aqui no blog. Bom é ser feliz com o Molejão, com toda certeza.
hahahahahaha
ahahhahahahhaahahaha
genial, como sempre!
Cilada é uma música que até hoje me pego cantando. E aquela outra, do mineirinho, de quem era mesmo?
eu não tenho culpa de comer quietinho
e blá blá blá
ahahahhaha, genial de novo.
Calma que ainda teremos um especial sobre o Alexandre Pires (o gênio por trás de “Mineirinho”). Sério. Medo de mim.
A Dança da Vassoura tinha que ter uma menção honrosa…
Ah, e veja isso: estatísticas do pagode e molejo para nerds!!!!:
http://www.treta.com.br/2009/10/estatsticas-do-pagode-brasileiro.html
http://www.naosalvo.com.br/vc/molejao-para-nerds-brincadeira-de-crianca/
Cara, incrível como pagode e nerdice conseguem se unir para criar…criar…humm…não sei descrever coisas como o pagodados ou as estatísticas do Molejo sem usar a palavra “genialidade”.
Toda vez que chego em casa, a barata da vizinha tah na minha cama…e aih, Vailan, que que cê vai fazê? eu vou compara um chupe-chupe pra me defender…
…ele vai dar uma …
Toda vez que chego em casa, a barata da vizinha tah na minha cama…
pô, cara… você já viu o VIDEOCLIPE de Sweet Banana?
ah, e faltou o Pimpolho na tua lista, mermão!
Pimpolho é do Art Popular…
Pq eu disse isso?
E eu também senti falta da inesquecivel “Dança da Vassoura”
E faz carinha de quem tá gostando demais…
E seu servidor do blog não quer que eu comente rápido, pq?
Realmente para quem conhece a discografia do MOLEJO, é dificil selecionar estas 5 músicas. Mesmo que escolhesse-mos 1 faixa de cada cd seria complicado; Até porquê existem muitas músicas do molejo que nunca foram trabalhadas na rádio e são ótimas,por ex: a romântica ” EM BUSCA DA FELICIDADE”, interpretada pelo Anderson Leonardo no volume 1, ”PAGODEIRA”, do vol. 5 e ”VAI EMBORA NÃO”, do vol. 6, apenas pra citar algumas.Garanto a vcs q Sweet Banana tem rítmo e coreografia muito dançantes.
Ainda bem que esses caras voltaram com tudo em 2009 cantando ”VOLTEI.”
Como eles dizem numa faixa do volume mais recente:”No fundo, no fundo, sei todo mundo se amarra no som do molejãoo!!!!
Faltou falar daquele que considero o mais intrigante dos versos dos caras:
“Mas tome cuidado com o cabo da vassoura, é pior do que cenoura, você pode se dar mal!”
(Dança da Vassoura)
Tipo… já imaginou algo assim… PIOR DO QUE CENOURA???!
Sou fã!
*Tem uma música muito maneira agora. Chama-se “Eu vou voltar pra sacanagem”.
A Dança da Vassoura é o hit preferido do Capitão Nascimento.
Teve show deles semana passada aqui na cidade onde moro. Muito bom ver a juventude do Séc XXI caindo no samba ao som De “Caçamba”, “Self Service” e outras pérolas já mencionadas.
Anderson Leonardo continua com o mesmo pique e carisma, mesmo só se apresentando agora em fins de mundo. Mas o importante é que o espírito do pagode irreverente do Molejão ainda permanece!
Abraços!
Sempre esperei que quando Anderson Leonardo perguntasse “ANDRÉZZZZAAAAO, SABE QUAL É A BRINCADEIRA QUE EU MAIS GOSTO???”, Andrezão puto das calças porque nao aguentava mais tocar essa, respondesse “Banco Imobiliário” e se retirasse do palco.