O fanfarrão: Um dos tipos de peladeiros mais facilmente reconhecíveis, o fanfarrão quase sempre alia uma imensa preocupação estética pessoal (chuteira colorida, gola levantada, camisa oficial do Real Madrid autografada pra jogar gol a gol com o sobrinho no quintal de casa) a uma visão distorcida do esporte, que analisa o futebol como um esporte individual e não coletivo, e considera que o único resultado importante é o número de gols (ou em certos casos, dribles) que ele faz. Tendo como seu habitat natural o setor ofensivo, só volta até a defesa para reclamar ostensivamente de alguém ou para perder a bola tentando driblar de forma desnecessária.
Suas motivações têm origens complexas que podem ir desde uma esperança irracional de que mesmo acima do peso e aos 35 anos esteja sendo observado por um olheiro do Chelsea e vá conseguir, graças as suas jogadas de efeito, um contrato com algum grande clube europeu até algum tipo de trauma por nunca ter tido uma bola de verdade quando era garoto, tratando o mundo como sua versão pessoal do FIFA Street. Se inspira em atletas como Robinho, Neymar, Denílson e Falcão do futsal.
O ogro: Atleta facilmente identificado pela virilidade, disposição e tendência para o uso de força excessiva, o peladeiro ogro quase sempre busca compensar com um futebol violento algum tipo de ausência ou deficiência técnica, tentando reduzir suas jogadas ao mínimo denominador comum futebolístico e abusando do contato físico e da intimidação, mais ou menos como cariocas fazem numa micareta. Visualmente se apresenta como o oposto do fanfarrão, quase sempre usando durante semanas o mesmo short, o mesmo meião e a mesma camisa da campanha do Collor para presidente, além de nunca utilizar caneleiras (“coisa de veadinho”) e manter a mesma chuteira por períodos que podem ir de 2 a 12 anos.
Adepto de um futebol seco e competitivo,costuma considerar “coisa de veadinho” toda e qualquer jogada mais elaborada ou menos física, o que vai desde um drible pouco objetivo até a idéia absurda de parar a bola antes de chutar ou tirar o pé em alguma jogada para que um adversário não quebre a clavícula. Tem por hábito distribuir xingamentos durante toda a partida, seja contra sua equipe, a equipe adversária, o árbitro, deus, o universo ou a alta da taxa de juros. Enquanto está em campo não tem amigos e seria capaz de acertar um carrinho na própria mãe e pedir cartão pra ela alegando “simulação dessa vaca velha mentirosa”. Se inspira em atletas como Junior Baiano, Claudiomiro, Tonhão e Vanderlei Silva.
O tio da aula de educação física: Voz da ponderação dentro da pelada, o atleta do tipo tio da aula de educação física é uma espécie de super-ego do futebol, tentando sempre manter um clima de amizade, tranqüilidade, cooperação e outras tantas coisas que evidentemente não combinam com o futebol de meio de semana. Facilmente identificado por ser o único usando todo o material que não apenas a FIFA como também as nossas mães recomendam para a prática desportiva, tem como bordões frases insensatas como “aqui todo mundo é amigo, galera”, “pediu falta, parou, pediu falta, parou” e “o importante é a gente se divertir”, além do clássico “calma, calma, que que é isso”.
Defensor da teoria de que todos os jogadores são iguais e cada criança deve passar o mesmo tempo com a bola, insiste em coisas como tocar pro pereba da lateral esquerda, chamar todos os conhecidos pra aparecer no futebol e fazer com que existam 7 times de fora ou insistir pra que o cara que disse que vai ficar fixo no gol brinque um pouco na linha também. Praticamente não xinga durante a partida, mas tenta sempre fazer brincadeiras para descontrair o ambiente, como dizer quem vai ser o bola cheia e o bola murcha da rodada, imitando a voz do Tadeu Schmidt. Se inspira no Tio Luciano, que dava aula de handebol no colégio e mandava dar voltas na quadra quando a gente brigava com o coleguinha.
Hehehe
Acho que tô mais pra ogro
Sensacional hahahaha
sensacional [2]. conheço todos TÃO bem.
[joão, eu aplico seus textos à realidade. semana passada classifiquei os casais de amigos que tenho. hahaha.]
Me senti prestando um serviço de utilidade pública agora, sério
“Pediu falta, parou, pediu falta, parou”.
huahuahauhauhauhauhauhau
Eu sou bem fanfarrão, mas jogo atrás, como pode?
E também tenho essa do pediu falta, parou. hehehe
Vou observar peladas com mais atenção. Na única que vi ( e única que já vi meu pai jogar) ele machucou a canela e tal. Diria que foi uma breve carreira, mas classificaria ele como: aquele que joga de calça jeans.
ai João, beleza que vou pagar de intrusa (é impressão minha ou só seus amigos comentam?), mas tenho que falar. te descobri no pdh e de lá vim bater por essas bandas. amei teus textos (amei mesmo, porque na maioria deles eu ri e, de fato, amo o que/quem me faz rir). tu consegue falar das coisas mais banais de uma maneira tão interessante, com um humor despretensioso, difícil de se ver. a verdade é que li teus post’s compulsivamente.
era isso… só uma palavrinha de quem te lê e já se afeiçoou virtualmente a você. ;)
beijo.
Pô, obrigado mesmo, fico feliz pelo elogio e espero que você volte sempre.
(e trabalho com o conceito de que não existem estranhos, apenas amigos que ainda não se conhecem. li isso num pub e passei a repetir mesmo quando não faz sentido ou o contexto não pede)
oun! (não, eu não sei de onde vem também. tá vendo como eu li seu blog compulsivamente? rsrsrs)
e pode deixar que estarei passeando por aqui sim. cê já está na minha seleta lista dos favoritos (ou não tão seleta assim, vai).
beijo.
Quem é Juca Kfouri para escrever assim sobre futebol hiuahaiuahiua.
Toda pelada tem que ter esses personagens folclóricos mesmo, fora os caras que parecem que são patrocinados por alguma marca, já que a vestem dos pés à cabeça, aí quando entram em campo, ou na quadra, não fazem nada com nada.
Ê saudade de um futebolzinho no final de semana.
Ontem fui assistir uma. Lembrei desse texto na hora. Ri muito. especialmente quando um cara deu um jeito de chutar a bola tão alto que encaixou num vão do teto e possivelmente ficará lá até o apocalipse.
Teve também aquele que finalmente decide jogar e entra no finalzinho, correndo e dando tudo de si como se estivesse na final da copa.
Capaz de dar pra classificar os tipos de torcedores também.
Eu sou do tipo que apoia e dá dicas construtivas. Gritei bastante “fominha”, “bando de retranqueiros!” e meu favorito, “QUEBRA ELE!”.
Amei!!! Grande realidade. Acho que tenho.um.filho ogro.em casa..Deuses!
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