Cena 1
Você está conversando com a garota e está tudo bem. O papo fluindo, você tentando manter aquela coisa tarantinesca do “hysterically funny, but not funny-looking” e obtendo aquele nível moderado de sucesso até que em um dado momento você diz uma besteira. Você sabe que é uma besteira porque assim que você falou começou a bater um arrependimento, ela deu uma piscada assustada e em algum lugar na sua cabeça um neurônio deu um soco em outro e começou a gritar algo como “porque eu só trabalho com imbecis? por que?! poooor queeeeee?!”.
Então você, na intenção de corrigir a má impressão, tenta dizer qualquer outra coisa. E consegue piorar a situação, levando aquele mesmo neurônio a dar cabeçadas na membrana aracnóide e praguejar contra “o pior emprego do mundo, maldição!”. Daí você resolve partir pra metalinguagem e brincar que não é sempre tão idiota assim, o que claramente dá a impressão de que sim, você é sempre idiota desse jeito. E daí em diante você vai basicamente passar a noite toda tentando se corrigir e piorando a sua situação, numa imensa e interminável escalada de constrangimento, até que seus neurônios apenas desistam de você e decidam trabalhar por contra própria numa fórmula para definir números primos.
Cena 2
Você está no meio de uma conversa e alguém diz alguma coisa absurda, do tipo “e foi logo depois de ter matado aquele pingüim com a batedeira”. Mas depois a pessoa diz “ah, tô brincando”. Mas aí ela vira e diz “não, não tô”. E depois ela fala “ah, tô sim”. E então vem um “não, não estou não”. Mas aí ela diz “ah, eu tava brincando sobre estar brincando”. E então um “não, eu estava brincando quando disse que estava brincando sobre estar brincando”. E segue com um “na verdade eu estava brincando quando disse que estava brincando sobre estar brincando naquela brincadeira sobre estar brincando que eu fiz”. E aí você nota que está preso numa dimensão paralela onde as pessoas falam como personagens do Ben Stiller.
Cena 3
Você e seus amigos possuem uma piada interna freqüente, que consiste em, quando não tem absolutamente nenhum interesse em ir a algum evento ou fazer alguma coisa, denotar esse desinteresse mencionando que não podem ir porque “sua tia vai ser atropelada no sábado”. O conceito da piada é o de que a atividade citada é tão chata e tão pouco estimulante que você a)preferia ver a sua tia ser atropelada a estar presente nela; b)apresenta um nível de descaso quanto a ela que não te obriga a nem mesmo inventar alguma boa desculpa para a sua ausência.
Até que num dia, num bate papo entre amigos, alguém pergunta se todos vão pra um programa que claramente é uma furada e alguém faz a piada de que já tem um atropelamento de tia marcado. E aí a namorada de um amigo diz “minha tia foi atropelada. Num sábado. E morreu”.
E você, no silêncio que se segue, sente que a sua vida de agora em diante tem uma piada interna a menos.
aí, a namorada do seu amigo diz que está brincando e você nem tem mais energia pra achar graça disso. HAHAHAHA. muito bom! o/
Pior que não tava brincando não, é a minha namorada… hahaha essa história é verídica e bem foda!
Acho que meus neurônios tem muitos problemas desse tipo.
Eu ia ler esse post, mas minha tia engasgou bem na hora… Tô brincando! Tô não. A-há! Tô sim, tô sim.
Eu faço muita piada sem graça. Na verdade, eu tenho muita dificuldade pra encontrar o nível ideal de complexidade que as pessoas possam entender minhas piadas e por isso fico no vácuo eterno das piadas mal-entendidas.
Temo o dia em que eu tiver uma arma por perto quando pagar outro mico desses.
Cara, e quanto tu sabe que não tá indo tão bem, a mina olha para trás ou para o lado, tu faz um gesto pra aliviar a tensão, não sei bem explicar, mas todo mundo já fez, é tipo um movimento com os braços e uma cara de “WTF!?” pra si mesmo, acontece muito com o Ted em How I Met Your Mother, mas, enfim, ela se vira de volta no meio do teu ato. Porra, aí é complicado. Aí a casa cai feio. Não sei se deu pra entender, o lance é que é uma situação complicadíssima. Talvez pior que a bobagem que você fala.
Graaaaaande Djonny PC (sigla de uma piada interna, desistam de tentar entender)! Muito boa a cena da tia e muito utilizada no nosso dia a dia! MPE pra ver um post sobre pulmões perfurados com uma espreguiçada! Bjunda muleke!
Excelente!!!
A arte de contar piadas sem graça deveria ser tão valorizada quanto a oposta. o/
Excelente post!! =D
aconteceu essa 3a cena com uma piada interna da minha turma que dizia ” um castor mordeu minha bunda”.
E ficamos com uma piada a menos na vida.