Seria como aqueles do Discovery Home & Health, com a diferença de que passaria num canal mais alternativo, como a Record, e teria um nome mais trocadilho nacional como “Os Caça-Casas”. O apresentador seria o Bruno de Luca, que teria seu contrato com a Globo rescindido após o lamentável episódio da ofensa ao funcionário do hotel e precisaria arrumar uma maneira de pagar as contas e recuperar sua reputação, operando num modo que varia entre o “IRAAAAADO” hiper-energético e o “ah, tá” quando ele lembrasse que antes andava com o Luciano Huck e o Faustão e agora convive com o Marcos Mion e o Geraldo Luís. Nunca mais foi convidado pra nenhuma festa do Aécio Neves. A galera que fez Malhação com ele não atende mais o telefone. Iran Malfitano vira as costas quando passa por ele na rua. Iran Malfitano, cara.
Na introdução do programa Bruno apresentaria o casal participante – algo como ela carioca que acabou de sair da casa dos pais, ele paulista que visitou a cidade à trabalho e se apaixonou – e também o corretor, um daqueles homens de meia idade de camisa social cujo nível de desabotoamento varia mais com o estado emocional dele – descaso, muito descaso, extremo descaso, motorista de táxi que faz ponto na rodoviária – do que com o calor, com uns 20 anos de experiência no campo de locação e venda de imóveis.
O casal explica para o corretor o que está procurando, algo como um apartamento de dois quartos, na zona sul, perto do metrô, mas numa rua não tão movimentada. O corretor diz que precisa apenar das uns telefonemas e irá encontrar com eles na manhã seguinte. Bruninho de Luca olha para a câmera e diz “IRAAAAAAADO”.
Fim da introdução.
O primeiro bloco todo mostra eles chegando ao ponto de encontro, o corretor não está lá, eles telefonam pro corretor, o corretor não atende, ligam pra imobiliária, o telefone da imobiliária que o corretor tinha dado é um açougue em Cordovil, continuam tentando ligar, 40 minutos depois o corretor atende, “era hoje que a gente tinha marcado? puta merda, em 15 minutos eu chego aí”. Chega 50 minutos depois.
É a hora de apresentar os apartamentos. Após ouvir a solicitação do casal (apartamento, dois quartos, zona sul, metrô, rua tranquila), o corretor exibe suas opções:
– Uma casa de 3 quartos no Cachambi
– Um conjugadão na Barra
– Só tem duas opções porque “eu não sou seu empregado, duas opções é muito”, disse o corretor.
Quando o casal pergunta como assim Cachambi se eles tinham pedido zona sul o corretor responde “tijuca é a zona sul da zona norte” e eles dizem que Cachambi não é Tijuca, Cachambi é depois do Méier e aí o corretor diz “se não gostou tem quem goste, eu vou embora”. O noivo, paulista, começa a perder um pouco o controle e xinga baixinho a cidade.
Fim do primeiro bloco.
No próximo bloco é a hora de visitar apartamentos. No primeiro apartamento Bruninho e o casal são recebidos por um amigo do corretor, que já chega dizendo “não sei informar nada de preço, tá? vim só abrir a porta”, mas esqueceu a chave da porta. Ligam pro corretor. Não atende. O número da imobiliária que ele corrigiu é agora um depósito de material de construção em Niterói. Remarcam a visita pra outra semana. Bruninho olha pra câmera e diz “IRAAAAAAADO”.
Chegando no conjugadão da Barra eles descobrem que não apenas o apartamento não existe e o prédio também não existe como o condomínio é 300 reais mais caro do que o anunciado. O corretor a essa altura não responde mais as mensagens enviadas no whatsapp mas segue mandando longas correntes que dizem que se 5 milhões de pessoas repassarem aquela mensagem o Lula será preso.
Num momento em que o noivo foi ao banheiro as câmeras da equipe conseguem capturar a noiva telefonando para seus pais para confirmar se ainda poderia voltar a morar com eles. Bruno de Luca surge na tela e diz “dica do Luquita: esconder segredos do seu cônjuge ou parceiro não é IRAAAAADO” e pisca para a tela.
Fim do segundo bloco.
No bloco final o casal deveria escolher entre os 3 imóveis mas as opções são a casa de 3 quartos em Cachambi (“perto do Cachambeer, então o aluguel acaba de subir mais 150 reais, pela valorização”, avisa o corretor), o conjugadão na Barra que não existe no mundo real e um Chevette abandonado no Largo do Machado que a produção filmou apenas para ocupar na tela o espaço de um terceiro imóvel. O condomínio do Chevette é 700 reais, sem elevador. Só com seguro-fiança Porto Seguro.
Com as 3 possibilidades na tela e Bruno de Luca usando um pau de selfie para filmar a si mesmo atrás do casal dizendo “e aí, qual opção IRAAAADA vocês vão escolher?” o rapaz, chorando, fala que não tem mais condições e vai voltar pra São Paulo. A câmera filma a moça entrando num ônibus em direção a casa dos pais enquanto o corretor xinga o casal por ter feito ele perder tempo. Bruno de Luca olha para a câmera e diz “Espero vocês semana que vem para outro episódio IRAAAADO de CAÇA-CASAS”. A câmera segue fixa nos olhos de Bruno. O corretor se aproxima e começa a frase “tijuca é a zona sul da zona nor–” mas é afastado antes de concluir.
Tela preta. Aviso em fonte branca. “Ao chegar na casa dos pais nossa participante descobrirá que o apartamento deles teve o aluguel reajustado em 73%”
IRAAAADO…
cara,estou trabalhando num evento literário na tijuca,normalmente nós fazemos na praça saens pena mas estamos fazendo no largo da segunda feira,lá está sitiado de mendigo,cada hora é uma figura,há um cara que guardar a bike no poste taca o boné nos pombos para não defecarem na sua magrela depois solta o som e começa a dançar como se não existisse o amanhã,parece que ele tá numa viagem sem fim de ácido,tem um mendiga,Vera,que se diz mãe de todas os mendigos,que mija durante o dia atrás da minha tenda e os policiais viram a cena e só riram,outro diz que era jogador de futebol do recife,outro tava com o nariz escorrendo e falou que não era pó mas sim sinusite contudo estava mordendo o ar,outro que também diz que era jogador de futebol e canta clássicos do raça negra,benito de paula e inventa alguns sambas,como “vou escovar os meus dentes,mas antes vou limpar o meu relógio”,sim ele estava usando uma escova de dentes e limpando o seu relógio e depois usou pra limpa os dente,ontem a noite apareceu uma moradora de rua com um smartphone ligando para a “filha” e avisando que iria dormir no largo da segunda feira e que qualquer coisa era só ligar a cobrar e ficou jogando candy crush.O que todos em comum é a bombinha da cachaça,vira e mexe a briga é sempre por mais uma dose e de quem vai comprar outra,o risco de acender um fósforo e tudo aquilo explodir é imenso…e os palavrões,em uma frase eles conseguem encaixar quatro ou cinco,quando não faz uma justa composição,impressionado onde pode chegar o ser humano,em momentos penso em fazer um documentário, série”Cariocas”,as cenas da tijuca seria o primeiro episódio…pode até parecer engraçado,mas quando chego em casa e vejo que tenho um lar,um prato pra comer e pessoas para conversar de um forma franca e real,bate um remorso de tudo que eu vi…
Parece um texto meio auto biográfico hein?
Não pela procura por apartamento.
Mas pelo contato com o Bruno de Luca.
Rezando para que esse programa vire realidade