
Quase todo mundo adora cinema. O clima, as pessoas, o escuro, a arte da coisa em si. E eu cresci totalmente apaixonado, ainda que não pelas mesmas razões que todo mundo. Se a grande maioria dos que sonha em trabalhar com cinema vai citar Fellini, Trouffaut, Ford, Welles ou Spielberg, eu posso dizer com certeza que os caras que me inspiraram a querer ficar do lado de trás da câmera foram muito mais Kevin Smith, Judd Apatow, e os irmãos Farrelly (além do mestre Woody Allen). Então, existindo essa paixão, nada mais natural do que tentar fazer filmes. E eu tentei.
O primeiro foi um curta experimental, filmado em formato digital, em parceria com meu amigo Ronaldo Campbell, chamado “Perspectiva 2”. Exibido em alguns festivais o filminho era interessante, brincávamos com luzes, imagens, essas coisas. Mas eu ainda não sentia que era algo “meu”, já que desde o roteiro até as filmagens, era tudo em parceria. Claro, foi divertido, eu aprendi um bocado (meu amigo me ensinou, por exemplo, a tirar a tampa da lente antes de filmar as cenas) mas era um projeto totalmente coletivo. Aí surgiu a idéia de fazer um roteiro meu, pra que eu mesmo “dirigisse”: “Sexo Mata”.
“Sexo Mata” era a história de um grupo de jovens que sai pra acampar e acaba morrendo, um por um, nas mãos de um maníaco assassino. Sim, isso mesmo, o clichê máximo do gênero de terror. A única diferença é que seria uma comédia. Meio musical. Com cenas de sexo. Só que num clima de romance. Ou algo assim.
E então eu comecei e em uma semana tinha pronto um roteiro para um filme de vinte minutos. Mas e aí, eu ia fazer o que com ele? Começou então esse caos chamado pré-produção. Convidar pessoas, suplicar para amigos, conseguir câmera, microfone de captação de som, cenários (achar uma floresta não é tão fácil quanto as pessoas fazem parecer…), figurino, pessoas dispostas a ajudar, horários para ensaios, gravações e coisas do tipo. Mas por mais incrível que possa parecer, e graças a ajuda de vários amigos, estava tudo certo. Era a noite de filmar.
Sim, a noite, porque diferente de uma filmagem profissional, onde se gravam apenas alguns takes, algumas cenas por dia, nós teríamos que, em duas noites, filmar tudo, sem margem para erros, afinal, ninguém estava sendo pago(na verdade eles até gastaram dinheiro pra atuar). E lá fui eu, com minha melhor cara de cineasta, dirigir um grupo de corajosos amigos no meu primeiro curta-metragem como autor-diretor.
Erramos takes, perdemos cenas, queimamos dedos na lâmpada de iluminação, tropeçamos uns nos outros, o bucho de boi que seria usado como efeito especial em uma cena de assassinato desapareceu, gastamos cinco litros de katchup em só take, minha ex-namorada quase terminou comigo porque achou que aquilo tudo era só pretexto pra dar em cima de uma das atrizes (mas não era, juro…) e tivemos que rodar uma cena cerca de dez vezes, com cortes absurdamente rápidos, porque um amigo meu simplesmente não conseguia guardar mais de duas palavras de cada vez e não conseguia terminar a cena final. Isso sem contar que não achamos uma floresta e tivemos que filmar na garagem do meu prédio, tendo que parar sempre que algum carro entrava ou algum vizinho dava a descarga com mais força.
Mas mesmo assim, com tudo isso, conseguimos terminar as filmagens e eu pude editar o filme, o que, fazendo sozinho e usando programas de mínima tecnologia, demorou um belo de um tempo. Mas vendo o resultado pronto e lembrando da diversão do processo, ainda que eu realmente duvide que o filme tenha a chance de ganhar algum Oscar em 2010, eu só posso é dizer que espero ter várias outras noites como aquelas.
Obrigado a todos pela ajuda, desculpa pela demora e saibam que nada disso teria acontecido sem vocês.
“Sexo Mata” é um curta metragem de terror/comédia/camping/musical, ou algo assim. Foi recusado em todos os festivais em que foi inscrito e está disponível online aqui.
(Obs: Agora ou eu me recupero do fail dos palitinhos ou o link não aparece e eu destruo a minha reputação de vez…)