O retorno do rei – O passado era passado, o que terminou ficou pra trás e o que importava era o futuro, ela disse quando vocês se conheceram. Daí a sua despreocupação quando aquele ex-namorado que morava em outra cidade voltou e ela disse que eles iriam se encontrar, falar sobre os tempos da faculdade, tomar uma cerveja. Você, ocupado, sabe como é o trabalho, disse que não, que tudo ok, que ela fosse e se divertisse, você tinha outras coisas a fazer e nem ia ter muita graça, você não ia entender as piadas mesmo. E eles saem um dia, e eles saem outro dia, e num dado momento num futuro próximo ela senta na sua frente e diz que não dá mais, que ela está se sentindo culpada, que na verdade ela nunca esqueceu aquele cara, que não é nada contigo, mas o que eles sentem é real e pra sempre. E aí você percebe que na verdade não era o titular mas sim o reserva, que não era o protagonista mas sim o substituto, que não era o Romário mas sim o Viola, que se o seu namoro fosse o filme de volta para o futuro você não seria o Michael J Fox e sim o Eric Stoltz. Na noite seguinte, abraçado a uma garrafa de vodka, você procura o nome do Eric Stoltz no IMDB, vê os filmes que ele fez e chora bastante. Continuar lendo
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A fantastic fear of everything
Eu nunca fui um cara corajoso. Nunca. Sabe aquelas histórias de crianças que fazem as coisas mais absurdas, se penduram nos lugares mais altos, brincam com as facas mais afiadas, pegam qualquer coisa em qualquer lugar e colocam na boca? Eu nunca fui assim. Eu era a criança que ficava sentadinha direito na cadeira, eu era o garotinho que tinha receio do porta-talheres, eu era o bebê que não apenas não pegava coisas do chão como possivelmente partiu direto do “gugu”, “dada” e mamãe” para “isso se encontra devidamente higienizado, minha boa senhora? não me venha com rodeios”.
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Sobre o dia em que eu tive medo de avião
Eu sempre achei que fosse ter medo de avião. Quer dizer, medo não, pavor. Primeiro pela óbvia periculosidade da idéia – é uma caixa de metal, erguida ao céu por turbinas, deslizando no ar quente, comandada por um cara que sempre tem um sobrenome como “mendonça”, “peçanha” ou “menezes” e sobre a qual só ouvimos falar quando cai – e segundo pela minha óbvia facilidade para ter medo das coisas. Tenho medo de altura, tenho medo de cavalos, tenho medo de lugares fechados, tenho medo de pessoas não tão familiares que me cumprimentam dando aquele abraço com a cabeça apoiada no ombro, tenho medo de pegar carona e ser obrigado a conversar com o dono do carro. Em suma, se algum dia ocuparem Wall Street pedindo uma melhor divisão do medo dentro da sociedade, eu, com toda certeza, vou estar entre aquele 1% que todo mundo vai criticar por estar concentrando receios demais. Continuar lendo
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